Dois dos reformadores das políticas de drogas mais conhecidos estão nas eleições de Novembro e embora, exceto por um milagre, eles não tenham chance nenhuma de vencer, ambos estão levando a mensagem da reforma das políticas de drogas a novos públicos e, com sorte, estão conseguindo um novo apoio ao desmantelamento da proibição das drogas. Em Connecticut, Cliff Thornton, diretor do grupo de reforma Efficacy está concorrendo como indicado do Partido Verde ao governo do estado. Em Maryland, Kevin Zeese da NORML e da primeira Drug Policy Foundation (antecessora da Drug Policy Alliance), fama e presidente do Common Sense for Drug Policy está concorrendo ao Senado dos EUA como candidato de “unidade” como indicado dos partidos Verde, Libertariano e Populista. (No Alabama, a ativista pró-reforma das políticas de drogas Loretta Nall conseguiu a indicação do Partido Libertariano ao governo, mas não podendo superar os requerimentos classificatórios onerosos para partidos terceiros, foi reduzida a fazer uma campanha por correspondência.)

Cliff Thornton em campanha
Em Connecticut, Thornton enfrenta o desafiante democrata,
John DeStefano, e a titular republicana, a
Governadora Jodi Rell, que, de acordo com as
últimas pesquisas conseguirá a vitória com uma margem superior a 20 pontos percentuais. Apesar de Thornton não ter sido incluído nas pesquisas e ter sido excluído do debate de televisão da quarta á noite – ele conseguiu sim publicar um anúncio de campanha justo antes do debate -, ele disse à
Crônica da Guerra Contra as Drogas que a sua campanha esteve abrindo um novo espaço para a reforma das políticas de drogas em Connecticut.
“Estamos causando impacto”, disse. “Tem havido cerca de 175 tiroteios e matanças aqui nos últimos três meses e falo sobre o porquê. É principalmente por isso que Reel e DeStefano não me querem nos debates – eles não querem defender uma política fracassada de drogas”.
Podem não querer conversar sobre as políticas de drogas, mas para Thornton essa é a peça central da campanha dele. “Nem sempre começo com as questões das drogas, mas todos querem saber delas. Todos as entendem”, disse Thornton. “Reel e DeStefano estão mantendo distância do problema, apesar de os empregados deles falarem sobre isso às vezes”.
O ano de trabalho de Thornton nas trincheiras da reforma das políticas de drogas em Connecticut e em todo o país o tornou uma quantidade conhecida nos círculos políticos e midiáticos locais e a disputa ao governo deste ano tem dado muito que falar a artigos sobre Thornton e a questão das drogas. Agora, o problema está ganhando ainda mais visibilidade em Connecticut graças à Law Enforcement Against Prohibition, que atualmente está em turnê oratória em todo o estado. Embora a LEAP não faça campanha em prol de candidatos, a oportunidade da campanha de Thornton está jogando lenha na fogueira dos seus esforços em Connecticut. O grupo já teve umas 70 palestras ou entrevistas com a mídia durante a sua operação atual, com mais alguns agendados.
“É difícil medir o impacto da LEAP”, disse Thornton, “mas é muito poderoso”.
Com apenas algumas semanas restantes na campanha, Thornton está a todo vapor. “Temos uma agenda lotada entre agora e o dia das eleições”, disse. “Eles não nos querem nos debates, não nos querem nas pesquisas, mas não podemos impedir a divulgação da nossa mensagem, e, nesse sentido, já vencemos”.
Embora em Connecticut, um voto em Thornton em vez de Rell ou DeStefano provavelmente não cause impacto nenhuma na suposta vitória de Rell, as coisas não são assim na disputa de Maryland ao Senado dos EUA. Nessa cadeira aberta, o democrata Ben Cardin está em uma disputa acirrada com o republicano Michael Steele. De acordo com as últimas pesquisas, Cardin tem uma ligeira vantagem, mas pelo menos uma pesquisa mostra empate técnico, com cada candidato recebendo 46% dos votos e Zeese recebendo 3%. Em Maryland, a campanha de Zeese pode ser o verdadeiro desempate, ou como Zeese prefere chamá-lo, “competição”.
Zeese já teve algumas realizações notáveis. Ele conseguiu forjar uma aliança com a sua candidatura Verde-Libertariana-Populista e virou o primeiro candidato de terceiro partido em Maryland a conseguir uma cadeira nos debates do Senado. Já que ele carece de fundos de campanha para empreender uma campanha publicitária completa, os debates serão críticos para o sucesso da campanha de Zeese.
“Tive que passar obstáculos para entrar nos debates – pode haver até seis deles – e isso é o fundamental para toda a campanha. Temos que ser ouvidos e vistos e isto ajudará a fazer que a mídia reconheça a minha candidatura”, disse Zeese à Crônica. “Acho que os meus números nas pesquisas subirão consideravelmente assim que os debates começarem porque as pessoas ouvirão a minha mensagem”.
É-lhe difícil ser ouvido agora. “A campanha de Zeese é invisível”, disse o professor de governo da Universidade de Maryland, Paul Hernson. “Ele não tem recebido muita cobertura”.
Mas, disse Hernson, com a disputa tão apertada como está, Zeese pode causar impacto. “Se esta disputa resultar muito acirrada, é possível que um candidato de partido menor como Zeese possa ser o elemento de desempate”, disse ele à Crônica.
Zeese pode se beneficiar com a política racial enrolada desta contenda. O democrata Cardin é branco e está tentando apelar à base democrata negra dele, que ainda está mordida pela vitória de Cardin sobre Kweisi Mfume nas primárias, enquanto que o republicano Steele é negro e está tentando apelar aos conservadores brancos enquanto recebe o apoio de alguns eleitores democratas negros.
Zeese está tirando vantagem da questão das políticas de drogas onde puder. “No debate da Urban League, na minha apresentação falei sobre a necessidade de tratamento, não da reclusão, e falei sobre a população prisional”, relatou. “Quando alguém me fez uma pergunta sobre se os afro-americanos deveriam apoiar os democratas, falei sobre o fato de Maryland ser o estado com mais injustiça racial no país, com 90% dos presos por delitos de drogas sendo negros. É isso que dá eleger democratas, disse-lhes”.
Com Steele avançando sobre Cardin, Zeese pode fazer as coisas mudarem. A única questão é a de quem ele tem mais chances de tirar votos e isso não está claro de jeito nenhum.
Dois outros reformadores importantes das políticas de drogas, o diretor executivo da Drug Policy Alliance, Ethan Nadelmann, e o diretor executivo da Criminal Justice Policy Foundation, Eric Sterling, disseram à Crônica que eles davam as boas-vindas a campanhas de reformadores das políticas de drogas por partidos terceiros, embora Nadelmann estivesse preocupado com o impacto que elas podem ter sobre o Partido Democrata.
“Historicamente, os partidos terceiros desempenham um papel crucial na legitimação de assuntos polêmicos para a ação política nacional”, disse Sterling, que foi rápido em observar que contribuíra com as campanhas de Zeese e Thornton. “O Partido Republicano era um terceiro partido quando se formou e se organizou em torno da questão da abolição da escravatura. Os partidos terceiros nos anos 1920 e 1930 avançaram as questões da administração do trabalho que foram promulgadas nos anos 1930 e 1940, as quais agora damos por certas como parte do jeito estadunidense de ser, como as férias remuneradas e a semana de trabalho de cinco dias. A idéia de que haja apenas dois partidos políticos é algo próprio dos Estados Unidos e não existe na Constituição”, apontou.
“Em Connecticut, os problemas da proibição, a criminalidade e o abuso químico têm sido problemas de grande relevância nas três maiores cidades”, disse Sterling, apontando delegados de política que vão e vêm em Hartford, o atual prefeito usuário de cocaína em Bridgeport e os níveis de criminalidade historicamente altos em New Haven que mantêm relação com a proibição das drogas. “Dados estes antecedentes, a candidatura de Cliff Thornton, a sua biografia singular e a sua capacidade incomum de discursar poderosa e eficazmente a muitos públicos lhe permitiu falar sobre a questão das drogas em Connecticut e isso tem feito que muitas pessoas pensassem sobre a natureza do nosso problema com as drogas, os nossos meios de abordá-lo e as conseqüências de abordá-lo dessa maneira”.
Em Maryland, disse Sterling, há uma disputa dividida em três e Zeese merece apoio quer isso fira a candidatura democrata ou não. “Se for aceito que há um papel legítimo para os partidos terceiros no nosso processo democrático, então não pode ser verdade que isso aconteça somente quando não faz diferença nenhuma”, debateu. “Se Bem Cardin é incapaz de mobilizar os seus aliados na comunidade afro-americana, é culpa dele, não de Kevin Zeese”.
Tais campanhas “inquestionavelmente valem a pena”, disse Sterling. “Aqueles de nós que lêem a Crônica da Guerra Contra as Drogas entendem que a luta para mudar a legislação sobre as drogas no mundo é uma luta de longa data e que transformar as nossas idéias em senso comum requer que elas sejam articuladas nos foros convencionais do debate sobre as políticas, como as campanhas eleitorais. Em Connecticut, a campanha de Thornton fez mais que qualquer coisa em legitimar o debate acerca das políticas de drogas, e, inquestionavelmente, isso é bom”.
Nadelmann da Drug Policy Alliance concordava, mas ele expressou algumas inquietações com as conseqüências negativas. “Se se fala sobre uma disputa para governador, a questão é como os outros candidatos estão neste problema e se isto ajuda o provável ganhador a chegar a uma posição melhor nas políticas de drogas ou não”, disse. “Em Connecticut, Thornton está desempenhando um papel construtivo ao falar sobre as políticas de drogas e provavelmente não terá impacto nenhum sobre o vencedor. Mas, será que a Gov. Rell nos confrontará com isso quando precisarmos que assine um projeto de maconha medicinal ou um projeto de zonas livres de drogas?”
A equação é um pouco diferente para os cargos legislativos, debateu Nadelmann, especialmente neste ano. “Está claro que a reforma das políticas de drogas se sairá melhor sob um Senado e Câmara democratas que republicanos. Em Maryland, Kevin Zeese inovou com a sua coalizão e isso é bom. O que não se quer que aconteça é que os votos em Kevin terminem indo para o candidato e o para o partido que são piores nas políticas de drogas”.