Durante mais de quatro anos - desde o dia do primeiro aniversario dos ataques de 11 de Setembro - a Administração de Repressão às Drogas dos Estados Unidos (DEA) e seu museu têm apresentado uma exibição que tenta relacionar as drogas ao terrorismo. Conhecida como Target America: Opening Eyes to the Damage Drugs Cause [Alvo Estados Unidos: Abrindo os Olhos para o Dano que as Drogas Causam], a mostra itinerante tem despertado muitas queixas e troças das pessoas que discutem que não são as drogas, mas a proibição das drogas que gera os lucros ilícitos usados às vezes pelos grupos políticos violentos.

panfleto da DEA Targets America
Houve alguns ataques contra a exibição quando foi mostrada em Dallas, Omaha, Detroit e Nova Iorque, quando há dois anos atrás, Patricia Perry, mãe do oficial da polícia da Cidade de Nova Iorque, John Perry, que perdeu a sua vida no dia 11 de Setembro,
criticou a exibição neste boletim informativo. Mas foi apenas quando chegou a Chicago na semana passada que os reformadores das políticas de drogas tiveram sucesso no revide com um contra-ataque cuidadosamente planejado e bem executado que conseguiu gerar atenção crítica da mídia em relação à exibição.
Tudo começou com uma preocupação municipal de parte do professor de artes cênicas da Universidade Estadual do Illinois e autor do blog Drug War Rant, Peter Guither. Após divulgar a chegada iminente da exibição no blog dele e criar um novo site, DEA Targets América, a resposta dos leitores provocou Guither, e os aliados começaram a chegar. Quando a mostra chegou a Chicago na semana passada, os ativistas estavam entregando panfletos na frente do museu e Guither e o Students for Sensible Drug Policy (SSDP) tinham lançado notas à imprensa em um esforço para chamar a atenção dos meios de comunicação.

a mostra ofensiva da DEA
"Quando eles apresentaram esta exibição pela primeira vez, lembro-me de pensar: a DEA está fazendo propaganda em um museu de ciência?" disse Guither. "Eu cresci no Museu de Ciência e Tecnologia de Chicago, e me lembro de pensar que o meu museu nunca faria isso. Daí, um par de anos depois, vou ver as exibições seguintes e vejo a apresentação da DEA. Esta é uma propaganda tão clara que eu tinha que fazer alguma coisa", disse à
Crônica da Guerra Contra as Drogas. "Mencionei isso no meu
blog e um dos meus leitores concordou em entregar panfletos, daí eu produzi a nota à imprensa e o
site, e então o SSDP se envolveu - são um grupo excelente! Tom Angell do SSDP ajudou com o panfleto e com deixar a imprensa interessada, daí era com a imprensa fazer o trabalho dela".
"Eu mandei e-mails aos nossos membros na área de Chicago e pudemos fazer com que algumas pessoas entregassem panfletos", disse Angell. "Temos umas boas pessoas na área".
A manobra compensou bem com um artigo do Washington Post no sábado passado intitulado "Drug-Terror Connection Disputed" [Conexão Drogas-Terror É Questionada]. Essa reportagem, que também foi usada por jornais em Knoxville, Indianápolis e Tampa, citou tanto Guither como Angell do SSDP, assim como a professora de Chicago, Jeanne Barr, que também é integrante do SSDP. O Congressional Quarterly também publicou uma matéria sobre a exibição que fazia menção do argumento de que é a proibição das drogas - não as próprias drogas - que fomenta o terrorismo e até o UPI publicou um artigo curto que mencionava a polêmica na sua rede internacional, artigo que foi usado pelo Washington Times.
Os artigos deixaram a DEA na defensiva, com o porta-voz Steve Robertson dizendo ao Post: "Somos uma agência de repressão legal - nós impomos as leis como estão escritas. O Congresso faz as leis. As pessoas dizem que se não tivéssemos leis sobre as drogas não haveria problema nenhum, mas havia um problema antes e por isso essas leis foram estabelecidas".
"Acho que pegamos a DEA desprevenida", disse Guither. "Tem esse agente dizendo que eles apenas impõem a lei, mas eles são os que fazem pressão por essas leis. Eu não acho que a DEA estava preparada para isto".
"Aplicamos alguns golpes de judô na DEA", disse Angell do SSDP. "Pegamos a mensagem dela e a enrolamos com ela. Os repórteres ficaram intrigados com o que estávamos dizendo. Por um lado, estávamos concordando com o ponto principal da DEA - que os lucros do tráfico de drogas do mercado negro podem financiar o terrorismo -, mas nós destacamos o fato de que eles estão deixando de fora uma grande parte da história", disse ele à Crônica.
"Fiquei decepcionado com o Chicago Tribune e o Sun-Times, apesar de tudo", prosseguiu Angell. "Eles seguiram a linha da DEA. Eles não nos mencionaram por nome nem nos citaram; eles tiveram uma ou duas linhas sobre 'os críticos dizem isto'".
Guither disse que ele não esperava nada além disso da imprensa local. "Já que tanto o Sun-Times quanto a McCormick Tribune Corporation eram patrocinadores da exibição, eu não esperava que qualquer um dos jornais fizesse muitas críticas. O mero fato deles terem mencionado os críticos que dizem que a exibição é propaganda é uma vitória, na minha opinião".
Os ativistas tiveram muito cuidado em apontar a ira deles contra a DEA, não contra o Museu de Ciência e Tecnologia. "Não queríamos protestar contra o museu, mas contra a DEA", disse Guither. "E não queríamos esmiuçar cada uma de suas falsidades, então o nosso enfoque estava na inadequação da DEA relacionando as drogas ao terrorismo já que é a proibição que possibilita o tráfico de drogas e os seus lucros. Além do mais, já que isto é Chicago, temos todo o legado de Al Capone. O Prefeito Daley convidou essa exibição, mas ele parece ter ignorado a conexão entre a proibição das drogas e a lei seca e como a segunda criou Al Capone. O que temos nesta mostra é uma agência federal com um placar em desvantagem fazendo escândalo e relacionando a si mesma à guerra contra o terror, quando ela é o problema de verdade".
Embora a DEA não tenha mais nenhuma cidade na sua programação de viagem da exibição, o SSDP estará pronto para comparecer se e quando a apresentação da DEA chegar a outra cidade. "Já que temos os materiais e as notas à imprensa, vamos segui-la aonde quer que vá", disse Angell. "Se tivermos gente no lugar, vamos organizá-los para que entreguem materiais. Eles devem saber que vamos atrás deles; Se os estorvarmos o suficiente, talvez desapareçam algum dia desses".
"Estou muito satisfeito", disse Guither. "Isto foi divertido. Se não tivéssemos feito o que fizemos, teria sido o pronunciamento padrão. Aqui está uma nova exibição educacional. Traga os seus filhos e aprenda sobre os perigos das drogas e como a DEA está salvando você. Mas, em razão do trabalho que fizemos aqui, conseguimos derrotar a DEA. Isso nos faz sentir bem".